Lê. Faz-te mal.
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in TextosCortar
Giro comoO desgosto te apanhaDevagar como Uma carícia que arranhaSem sentires a dorQue lentamente se entranha No lugar onde tinhas amorNasce um fel que corróiAté voares como um condor — No profundo céu onde te exilas — e arrogância da dor destilas O primeiro golpe não dóiA indiferença não te vai magoarO riso dos outros não te destrói Prossegues sempre […] More
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Polvos
Rapaz, apanhava polvos nas pedras expostas pela maré baixa. Munido de uma vara feita por mim, com três ou quatro metros de comprimento, de acácia, toda ela descascada e alisada à mão. Numa das pontas, quatro anzóis grandes, equidistantes, apontados para a ponta oposta e ligeiramente angulados para a esquerda. Completava o instrumento, o isco, com duas sardinhas bem gordas, […] More
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Sobre a lentidão
Pode argumentar-se que as velocíssimas sociedades ocidentais apreciam, ainda que sem o desejar verdadeiramente, o passo lento dos estados e das coisas que se apresentam a um ritmo tal que permite escrutinar, ou ser escrutinado, de uma forma global, ponderada, reflexiva e completa. Ou seja, onde a percepção e usufruto desses estados ou coisas, advenha, em primeiro lugar, da possibilidade […] More
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Sobre cientistas e sábios
Há o que pertence ao universo, a uma realidade cósmica e absoluta, na consistência das suas leis, na imparcialidade da sua razão e na objetividade da sua aplicação — e há depois o que pertence aos homens, à realidade de cada um e às dinâmicas que os ligam. Se o que pertence ao primeiro, ainda que elegante, abrangente e primevo, […] More
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in PosiçãoGrrr outra vez
Zé está sentado no sofá. Fica triste por ver nas notícias o elevado risco que um homem tem ao tentar arranjar comida para a família de ser alvejado e muda de canal. Ana faz beicinho ao ver as crianças emaciadas e cadavéricas e passa o polegar para cima. André passa na rua e, ao sentir um nó na garganta perante […] More
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Brrrr
Fica só e frio o ser que clamaMudo o toque que lhe adorneA vida vazia e sem chama Frio de frieza fria e disformePor viver exilado entre a genteSem abraço que o enforme Dizer de si próprio contenteQuando lhe chove no serE ter por ruidosa a mente E dos próximos se perderPor se sentir debaixo da móSentindo a vontade desfazer […] More
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Parafraseando Dag Hammarskjöld
“Quando nasceste, todos riam e apenas tu choravas”.Quando morreres, seja que nem tu chores. More
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in Posição, RecomendaçãoNobel da Paz para Francesca Albanese e médicos em Gaza
É tempo de escolher Quem gostarias de ver receber o Nobel da Paz? Eu sei que é difícil escolher entre uma mulher que trava uma luta desigual em defesa de um povo ou um psicopata desprezível, insensível a tudo que não seja proveito próprio. Pessoalmente, fiz a minha escolha. Faz a tua. Faz alguma coisa. Age com as armas que […] More
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Sobre o fardo de pensar
Do fardo de pensar me quero libertar, pois dele me desprender faz-me perenecer*. Ser árvore milenar que existe sem remar, o rio da idade num ser sem identidade. Se penso não existo, porque pensando a vida, o caminho trilhado pelo pensamento remete para a insignificância do ser ao ver-se a vida como unicamente imaginada, num sonho cósmico, sem significado ou […] More
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in Cartas do Vampiro, TextosEncontro com um Cão andaluz
Señor Buñuel; Señor Dali, Há dias em que me sinto um cão andaluz. O verão, o cheiro a fim de festa, a temperatura, e dou por mim deitado na praia, em frente a um mar que nada me diz. Aí vejo passar pessoas, ondas e gaivotas com igual desinteresse. Apenas se uma leva na mão um pão com chouriço ou […] More
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Finalmente livre
Estou cego de tanto ver, Confinado por tanta liberdadeNuma pradaria imensa que me obriga a olhar para baixoSempre para baixo, Ofuscado pela ausência da solitudeAnseio por estar só, E verAnseio que me deixem, E escutarSem os grilhões das imagens em cascata, Igual e constanteSem o seu troar indistinto, Sufocante algoz da escolhaTudo o que me sobra do universo me pede […] More
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in Notas Soltas, TextosNo reason / Sem razão
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in Cartas do Vampiro, TextosSonho e identidade
Saltar da cama. Finalmente entrar no dia pelo qual espera há horas. Algo o faz velar, desperto mas inerte; acompanhar os minutos e as horas no despertador, qual rapace, desperta mas toldada pelo capuz da noite que agora dá lugar, gradualmente, primeiro à luz e depois ao dia. Levantando-se, retoma a vida. Aquela que se diz necessária. A que resulta […] More
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in TextosO arquivista de impossíveis
Cairós tinha no gesto e no olhar uma calma que resultava não apenas de si, nem do que aparentava aos outros, mas antes de uma simbiose única entre si e o universo. Tudo nele se conjugava na proporção e no tempo precisos, porquanto agia como se todos os seus gestos, palavras, atitudes e comportamentos fossem o gesto, a palavra, a […] More
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in PosiçãoÀs 7:35
Às 7:35 de uma qualquer segunda feira, vinte e um de abril, uma criança morreu num acampamento por uma bomba de um exército opressor Às 7:35 de uma qualquer segunda feira, vinte e um de abril, um homem saiu de sua casa com medo de não voltar a ver a família que deixava na sua casa de mais de trinta […] More
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Sempre o mar
É sempre o mar que me trazEm cada onda que morreA vontade de viver renovadoOnde se agiganta o passadoSinfonia do tempo que escorrePor cada onda abandonado Paredes rolantes avançamDesfazendo-se em brancuraCobrem a vida e outro tantoSumidas nesse rouco prantoCom a sua agreste canduraQuais filhas do terror e espanto Ficam só os nomes das pedrasOnde todo o resto já mudouE nada […] More
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in Notas Soltas, TextosO maior anão do mundo
Max, como era por todos conhecido e tratado, não poderia ter nome mais apropriado. Quando nasceu, algures numa das inúmeras e imundas ilhas do Porto, nos obscuros finais da década de 60, nada viram nele que não mais do que uma boca para alimentar que escapou a ser marinheiro. Isso e uma vaga parecença, suficiente para lhe merecer o nome, […] More




















